terça-feira, 26 de novembro de 2013

Quase uma cidade só que bem pior

Está sendo transmitida na televisão a propaganda do condomínio fechado "Swiss Park" em Campinas, interior de São Paulo. Na campanha publicitária o slogan utilizado é: "Quase uma cidade, só que melhor." [1] Mas será que morar em condomínios fechados pode ser melhor do que morar nas cidades "abertas"? As razões apontadas nas propagandas para atrair os compradores é que lá existem área verde preservada, segurança, tráfego fluente de veículos e "é mais legal". Mas será mesmo?

A primeira razão apontada nas propagandas é que os condomínios possuem uma grande área verde mas se esquecem de dizer que geralmente os condomínios se instalam na periferia das cidades, em locais onde a área foi desmatada para sua construção ou se já estava desmatada e fazia parte da área rural, impede-se o reflorestamento da região.

Outra característica exaltada nas propagandas é que nos condomínios não existem congestionamento. Porém, os congestionamentos ainda persistem nos dentro dos condomínios já que por questões de segurança e de controle da saída e entrada de veículos, é desejável que o condomínio tenha poucas portarias e por isso, nos horários de pico o tráfego se afunila com todos os carros querendo passar pela portaria na mesma hora.

Seriema junto a muro de condomínio fechado em Bauru, SP. Ramón Portal. CC

Os condôminos se tornam dependentes dos carros já que esses loteamentos são estritamente residenciais e longe dos centro das cidades e o transporte público de uma forma geral não passa dentro dos condomínios (exceção feita aos condomínios grandes quem podem dispor de um serviço próprio para transportar os trabalhadores domésticos).

E os efeitos negativos que os condomínios provocam na mobilidade não se restringem ao seu interior. Por não terem ligações viárias com os bairros vizinhos, os condomínios fechados concentra o tráfego de veículos em algumas poucas ruas e avenidas, aumentando o congestionamento nestas vias. Outro efeito negativo é de que os condomínios contribuem com o alastramento urbano, o que por sua vez aumentam as distâncias e os tempos de deslocamento na cidade inteira. De que adianta não ter trânsito em algumas ruas no condomínio, se por conta do alastramento urbano terá no resto da cidade?

Mas talvez a qualidade que as propagandas dos loteamentos fechados mais se empenham em divulgar é a ideia de que as casas nos condomínios são mais seguras do que as casas "de rua", como são chamadas as casas nos bairros sem muros. Mas será que os loteamentos fechados são tão mais seguros assim? As notícias de condomínios assaltados têm crescido nos últimos anos [2] e os condomínios, como todo o símbolo de riqueza, atraem assaltantes.

E se engana quem pensa que com todo o aparato de segurança dos condomínios: portarias, guaritas, câmeras, cercas elétricas e muros os assaltantes se sentem intimidados. Segundo uma pesquisa da Polícia Militar do Paraná [3], 71% dos assaltantes preferem invadir casas com muros e 54% dizem que muros ocultam melhor a ação. E como a circulação de pessoas é pequena dentro dos condomínios, mesmo nas casas sem muros na frente, os assaltantes podem invadir as casas que não serão vistos por pessoas passando na rua. Além disso, o pequeno número de portarias que permitem a entrada e saída dos veículos facilita o bloqueio do condomínio por assaltantes, o que deixa seus moradores sem uma rota de fuga.

Outra suposta característica dos condomínios bastante propagada é de que por ser um bairro "socialmente homogêneo" o senso comunitário tenderá a florescer mais facilmente do que em bairros com faixas de renda variada. Os condôminos serão amigos entre si sem o constrangimento de frequentarem casas de vizinhos menos ricos. Segundo o ótimo artigo de Lucas Melgaço [4]:
"Uma rápida enquete em qualquer condomínio fechado brasileiro constatará que, diferente do que ocorre em muitos dos bairros pobres e favelas, os condôminos muitas vezes não sabem nem mesmo o nome dos seus vizinhos mais próximos. Isso acontece porque a homogeneidade buscada por esses empreendimentos é alcançada apenas pela seleção econômica: para ter acesso a essa dita comunidade basta que o interessado seja capaz de pagar pela casa e pelo terreno."
Como desenvolvido no artigo anterior do Urbanismo Diário "Uma Discussão sobre Condomínios Fechados":
"Alegando busca pela segurança (que nunca será obtida dessa forma) essas pessoas se fecham em um pequeno mundo, porém expondo e escancarando seu preconceito e seu desinteresse pelo diferente, pela diversidade, se privando da experiência mais enriquecedora para o ser humano que é conhecer o desconhecido;"
E novamente citando o artigo de Lucas Melgaço:
"Em substituição a ter de lidar com o “outro” em uma praça pública de esportes, prefere-se o privilégio de ter um campo de futebol particular, mesmo que ele corra o risco de ficar a maior parte do tempo subutilizado por falta de jogadores."


Para saber mais

[1] Site promocional do Swiss Park
http://www.swisspark.com.br/home

[2] Onda de assaltos violentos assusta moradores de condomínios em MG
http://g1.globo.com/bom-dia-brasil/noticia/2013/05/onda-de-assaltos-violentos-assusta-moradores-de-condominios-em-mg.html

[3] Viver sem muros é menos perigoso, dizem especialistas
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0710200722.htm

[4] A cidade de poucos: condomínios fechados e a privatização do espaço público em Campinas
http://agbcampinas.com.br/bcg/index.php/boletim-campineiro/article/viewArticle/20

sexta-feira, 8 de novembro de 2013


Hoje, 8 de novembro de 2013, propositalmente no Dia Mundial do Urbanismo, completamos um ano de Urbanismo Diário. Com notícias e artigos (quase que) diariamente, acreditamos que pelo menos um pouco, estamos ajudando a divulgar o urbanismo e as questões urbanas. Queremos agradecer todos que têm nos ajudado nesse objetivo. Obrigado.

E para comemorar o primeiro aniversário do Urbanismo Diário e o Dia Mundial do Urbanismo atualizamos nossa programação visual. O que acharam?