terça-feira, 4 de setembro de 2018

Núcleo do Centro Colonial Brasileiro

Largo do Cruzeiro em Salvador, Rosino, CC BY-SA 2.0
O Núcleo do Centro Colonial Brasileiro é o centro cívico das cidades fundadas no período colonial no Brasil. Muitas cidades originadas durante este período ainda guardam as características deste tipo como o traçado e as principais edificações.

O Núcleo Central se localiza geralmente no cume de uma colina, uma implantação também vista nas cidades portuguesas e na acrópole grega. Reúne os edifícios administrativos e religiosos articulados pelo Largo principal e acessado pelas ruas arteriais.

Estão no Núcleo Central a sede de dois poderes fundamentais no Brasil Colônia: a Igreja Matriz, sede religiosa oficial e a Casa de Câmara e Cadeia sede administrativa da cidade.

Catedral de Nossa Senhora da Assunção de Mariana, Celio Maielo, CC BY-SA 3.0
A Igreja Matriz, e no caso de ser ocupada por um Bispo, a Sé, é a igreja-mãe da cidade ou paróquia. É geralmente a construção mais alta na maior cota da cidade podendo ser vista a uma grande distância. Os estilos arquitetônicos mais comuns durante o período colonial para as igrejas são o maneirista, barroco e neoclássico. Acompanhando a Sé, em muitos casos está o Palácio Episcopal que é a residência do Bispo.

Antiga Casa de Câmara e Cadeia de Iguape, Luciano Faustino, CC BY-SA 3.0
Geralmente do outro lado do largo principal e rivalizando em importância com a Sé está a Casa de Câmara e Cadeia sede do poder terreno, político, contrapondo com o poder espiritual da Igreja. Reúne os atuais poderes executivo (atual Prefeitura e Milícia, atual Guarda Municipal), legislativo (Câmara municipal) e judiciário (Fórum).

Um tipo bastante comum para as Casas de Câmara e Cadeia é o sobrado destacado de dois andares com porta central ladeada por duas janelas e no andar superior três janelas na fachada. No térreo fica a cadeia e a guarda e no andar superior as salas e o plenário para reuniões da câmara e julgamentos. As cidades que adotaram este tipo foram Curitiba, Iguape e Brejo da Madre de Deus.

Como sede secundária do poder político está a Casa do Governador, residência do chefe do executivo provincial, geralmente a maior casa da cidade se equiparando em importância com as Casas Grandes rurais.

Pelourinho no Largo do Rossio no Rio de Janeiro, Jean Baptiste Debret, 1834 - DP

Articulando as sedes dos dois poderes está o Largo Principal, de um lado a Casa de Câmara e Cadeia e de outro a Sé. Os dois poderes um de frente ao outro. É também o palco dos acontecimentos cívicos como procissões e festas. Nele podem conter o Pelourinho, que consiste de uma coluna de pedra onde os escravos eram castigados publicamente, uma fonte ou chafariz ornamentada e um Cruzeiro.

Casa da Baronesa em Ouro Preto, Iphan, ©
O conjunto do Núcleo do Centro Colonial Brasileiro era completado pelas outras edificações importantes da cidade destacadamente os Sobrados.

Os Sobrados, sede urbana das famílias rurais, são uma edificação de dois ou mais andares. O térreo pode ser destinado ao comércio enquanto que o piso superior é geralmente destinado à habitação.

Uma teoria para a origem da denominação do sobrado surgiu, com as edificações nas cidades mineiras, em terrenos de topografia acidentada: as construções eram realizadas a partir do nível mais alto da rua, de forma que "sobrava" um espaço sob o piso principal da edificação. Com o tempo, este nível inferior passou a ser considerado o piso térreo, vindo a caracterizar os "sobrados".


Referências




segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Subúrbio Operário Inglês

 Edith Avenue in Moss Side, Manchesterphotos, CC-BY-SA 3.0 
Inaugurando a série sobre Tipologia Urbana, o artigo de hoje é sobre o Subúrbio Operário Inglês, que abriga um quarto da população britânica [1] e é um dos mais representativos tipos urbanos do Reino Unido.

O Subúrbio Operário Inglês é caracterizado pelas terraced houses (fileiras de sobrados geminados),  que diferentemente dos edifícios residenciais, não têm unidades habitacionais acima nem abaixo.

As fileiras se estendem longitudinalmente pelo quarteirão com unidades habitacionais com planta espelhada dividindo duas ou três paredes com outras unidades. O objetivo é alcançar uma grande densidade.

Over London by Rail, Gustave Doré, 1872, The British Library, DP  
As terraced houses possuem dois sub-tipos: o aristocrático ou Georgiano, surgido no século XVII, geralmente estão nos bairros centrais, têm três ou mais pavimentos e ornamentação e paisagismo; e o operário ou Vitoriano, surgido no século XIX, geralmente localizado nos subúrbios, dois pavimentos e sem ornamentação ou vegetação.

As terraced houses operárias começaram a ser construídas no auge da Revolução Industrial da Inglaterra, para abrigar os trabalhadores da indústria, muitos deles vindo da zona rural.

Dentro do sub-tipo operário, a primeira variação a se originar é o back-to-back que em uma tradução literal do inglês significa "costas à costas". As unidades habitacionais, geralmente muito pequenas, além dividirem as paredes laterais, dividem também as do fundo. Deste modo as janelas estão voltadas apenas para a rua ou pátio e não há ventilação cruzada pela casa.
Back-to-back court in Birmingham, Clem Rutter, CC-BY-SA 3.0 
Os blocos de casas back-to-back podem ser isolados como pequenos quarteirões rodeado por ruas, ou em casos de grandes quarteirões, os blocos na margem formando um pátio. Uma disposição comum das back-to-back são as one-up one-down, um cômodo em cima e um cômodo em baixo, como exemplificado na imagem acima.

A partir de 1875 [2], as terraced houses back-to-back passaram a ser alvo de regulações, que estipulavam larguras mínimas para as ruas e a variante regulamentada passou a se chamar byelaw terraced houses.

A variação preponderante das byelaw terraced houses foram as through terraces. Diferentemente das back-to-back, as casas só dividem as paredes laterais e portanto as casas tem aberturas tanto na frente quanto nos fundos, além de terem um pequeno quintal que dá acesso à viela que atravessa o quarteirão.

Um tipo comum entre as through terraces são as two-up two-down (dois em cima e dois em baixo) se referindo ao número de cômodos no primeiro e no segundo pavimento. No térreo estão a sala e a cozinha enquanto que no andar de cima os dois quartos.

Liverpool's Old Terraced Housing, Skyworks, © 
Após a segunda guerra mundial, as terraced house passaram a ser questionadas e demolidas para darem lugar aos prédios residenciais. Mas apesar da estigmatização, as terraced houses continuam a ser bastante procuradas. Segundo relatório [3] o custo da manutenção por pelo menos 30 anos de uma terraced house vitoriana padrão é cerca de 60% menor do que construir e manter uma casa mais nova.


Referências

[1] UK in a Street
[2] Public Health Act 1875
[3] Low Demand Housing and the Historic Environment