Texto e fotografia de Vitor Campanario
Imaginem um país onde a maioria dos
seus cidadãos com maioridade possuem uma arma letal. Além de
permitida, ter uma arma é ter status, quanto mais cara e mais nova mais status você tem. O governo incentiva a produção e o consumo
em massa. Os pais presenteiam os filhos e filhas com armas quando
completam 18 anos. Esse sonho de consumo atinge a todas as classes
sociais, do trabalhador ao grande especulador imobiliário.
Todos saem armados pelas ruas, exibindo
seu poder e sua virilidade. O resultado são 165 mortes por dia, o
equivalente a um avião Boeing. Além das mortes, o custo aos cofres
públicos e o custo social são assustadores, milhões de mutilados e
deficientes, ano a ano.
Ao mesmo tempo, há uma parcela da
população, como idosos e crianças que andam desarmados e também
aqueles que possuem armas, mas em determinados momentos do dia estão
sem elas. Essas pessoas, constituem a maior parte das vítimas, o
ataque é sempre impiedoso e não há chance de autodefesa.
Agora imaginem que para aqueles que
possuem armas são destinados 70% do espaço de deslocamento das ruas
e bilhões em investimentos anuais para a manutenção desse espaço.
Já o espaço destinado ao ir e vir do grupo não armado, além de
ser infinitamente menor, não recebe investimentos e é constituído
por grandes obstáculos e perigos. Também não há neste país, um
consenso de quem seria responsável pela manutenção desse espaço,
que deveria ser de todos, mas não é de ninguém.
O espaço dos não armados é
fragmentado, pois o espaço dos possuidores de armas não pode ser
interrompido, portanto quando uma criança precisa ir de casa até a
escola, deve necessariamente passar pela Zona Armada, e ao entrar,
deve atravessar em uma faixa específica. A questão é que, na
grande maioria dos milhares de quilômetros de Zona Armada das
cidades que compõe este país, não existem faixas e outros
elementos que garantam que a população não armada não seja
assassinada pela população armada e muitas vezes, por questão de
segurança, algumas normas acabam sendo descumpridas. O massacre é
diário e mesmo quando ocorrem nas poucas faixas existentes, não há
uma comoção social, afinal, um não armado, é só um não armado.
Para completar o quadro, o governo
deste país, ao invés de investir em políticas de segurança para a
população não armada e fiscalização para frear esse massacre
díario, resolve regulamentar uma norma, que irá multar a população
que é justamente a maior vitima. Os não armados que não
utilizarem as faixas (inexistentes) enquanto atravessarem a Zona
Armada, além do alto risco de morte, estão sujeitos a pagar multas.